Se não gosta de se sujar fique longe da corrente da sua moto. Prefira usar da cortesia de algumas oficinas ou pagar como fazem por aqui R$ 2,00 para que façam o ajuste e alinhamento enquanto você se diverte com as conversas ou revistas da oficina, ou toma um cafezinho na barraquinha de lanches ali perto. Mas se seu espírito motociclístico, assim como o meu, me faz querer aprender cada vez mais e me leva a querer fazer eu mesmo as minhas manutenções, vamos aprender um pouco mais sobre a transmissão da moto.
Só para constar passei quase metade da minha vida entre motos. Aliás, desde que me entendo por gente me lembro de uma moto em casa. Minha lembrança mais antiga do meu pai é ele chegando do trabalho com sua moto e eu tentando subir na mesma queimei a mão no escapamento. Aprendi a pilotar cedo, desde os 14 anos uso a moto quase que diariamente, e desde os 18 meto a mão na graxa, procurando resolver eu mesmo meus problemas e claro, economizando uma grana.
Antes uma explicação do que vem a ser a transmissão, e o que vem a ser a relação. A transmissão é o que liga o motor à roda, podendo ser ela por corrente, a mais comum, por correia ou por cardã, ou barra de tração. A corrente é o que quase todos temos em nossas motos, já a correia está presente em geralmente em motos cruiser (custom) ou em soccoters, na qual também faz parte do câmbio. E o cardã se faz presente em algumas custom, ou big trails, motos que precisam de maior torque na roda do que as demais. Já a relação nada mais é do que uma medida. Isso mesmo, a relação se mede levando em conta quantas voltas o a roda dá em relação ao motor.
Só recordar as aulas de física sobre relação de polias que tudo se esclarece, então por exemplo, se a engrenagem primária tem 10cm de diâmetro e a secundaria, tem 30cm de diâmetro, simplificando tem-se uma relação de 1 para 3, ou 3 para 1, ou seja, a cada três voltas da primária, a secundária dá uma volta. No caso das motos, como há um padrão a ser seguido, devido ao encaixe das partes, podemos usar como medida a quantidade de dentes do pinhão ou coroa, os sulcos nas polias ou os dentes das engrenagens do cardã. Por exemplo, quando vamos comprar um kit de transmissão, nos dão as quantidades de dentes das engrenagens, por exemplo 14x43 no caso da titan 150. 14 dentes na primária e 43 na secundária, então dividimos 14 por 34 e temos a taxa de relação, que seria algo em torno de 1:3, a cada 1 volta da coroa 3 voltas do pinhão.
Vamos dividir esse post em 2 partes, para facilitar as coisas, ajuste e alinhamento e limpeza e lubrificação.
1. Ajuste e alinhamento
Quase a totalidade dos mecânicos ajustam a folga da corrente com a moto no cavalete, com a traseira suspensa e sem carga, esticam o máximo que podem e alinham. Apertam tudo e entregam a moto como tudo tivesse normal. Porém há alguns probleminhas aí. Apertar demais a transmissão gera uma sobre tensão na corrente.
Como assim? A corrente tem como função ligar o motor à roda, o motor fica na parte estrutural, fixa da moto e a roda se prende à estrutura móvel, a balança ou quadro elástico. Então quando a moto está sem carga na suspensão a balança está arqueada, e quando se aplica alguma carga, como por exemplo o próprio peso da moto, e em seguida, piloto, garupa, bagagens ou ambos, essa carga aumenta. A aplicação de carga tente a abaixar a moto, causando um deslocamento da balança para cima, já que ela está apoiada no chão, quando isso acontece o ângulo se altera e a distância entre o eixo da saída do câmbio e o eixo da roda aumenta, levando a corrente a se esticar mais ainda. Sem folga a corrente estressa, o que pode levar à sua ruptura em um caso extremo, ou a um maior atrito entre as partes.
Quando for alinhar deve seguir as instruções do manual, que são replicadas na balança, uma vez que aquela folga já considera que a corrente não receberá sobre tensão quando estiver em sua extensão máxima. Do contrário pode haver desgaste prematuro ou até mesmo a quebra da corrente. A dica que dou é, com a moto no cavalete, force com a mão a corrente para o lado, e tente girar a roda, se houver tendência de se soltar aperte a corrente, até que tal tendência desapareça, pois dali em diante ela só tenderá a se esticar à medida que a carga se aplica sobre ela.
Os sistemas por correia geralmente vêm acompanhado com um tensionador, há também tensionadores para correntes. No caso do cardã não há necessidade de ajuste. Mas sistemas de correia e cardã estão num patamar financeiro além das possibilidades da maioria das pessoas.
2. Lubrificação e limpeza
A internet está lotada de informações sobre qual lubrificante correto, e qual periodicidade de tal manutenção. Assim como recomenda-se e eu recomendo ajustar a corrente, ou conferir a sua folga uma vez por semana ou no máximo a cada duas semanas, vale dizer que deve-se lubrificar o conjunto sempre que fizer o ajuste e sempre que lavar a moto. Lembrando que a lubrificação estará diretamente ligada à sujeira, já que o movimento da corrente vai lançar gotículas ou partículas do lubrificante na roda e partes do motor. Essa sujeira é inevitável, se quiser não ter de trocar o conjunto de relação a cada 3 meses deve lubrificar.
Qual lubrificante usar? Não sacrifique seu bolso com lubrificantes caros, use o que estiver a seu alcance físico e financeiro. Graxa branca, graxa marrom, graxa grafitada, óleo de caixa de marcha, óleo hidráulico, óleo de motor, óleo de motor usado, vai de acordo com sua necessidade e possibilidade, o que não vale é deixar o sistema seco. Salvo no caso da correia dentada, que não requer lubrificação. E o cardã é lubrificado com óleo num sistema fechado, ou integrado ao carter do motor em alguns casos.
Para limpar a corrente, pode se usar um jato fino de água, a fim de tirar a sujeira que se acumula no acúmulo de lubrificante, poeira ou lama, o que prejudica a vida útil da corrente. Pode-se a cada lavagem da motocicleta aplicar um jato fino de água ou lavar com diesel e uma escova de aço ou nylon. Em uma revisão geral pode deixar a corrente de molho no diesel ou aplicar algum solvente, ou desengordurante para facilitar o desprendimento da sujeira encrustada.
Posso trocar só uma peça do conjunto? Claro que sim. Não há nenhuma lei que proíba a troca de um pinhão, uma coroa ou uma corrente em separado. Aliás essa é uma das modificações mais comuns a nível de performance. Pinhão e coroa são as partes que mais se desgastam na relação, então trocar o pinhão por um maior ou menor a fim de direcionar melhor o rendimento da moto, ou para dar uma sobrevida às demais partes do conjunto da transmissão não é nenhum pecado. Claro que recomenda-se a troca da corrente quando se esgotam as possibilidades de reajuste, e os fabricantes já vendem o kit completo, mas caso seja necessária a troca de apenas uma peça não é nenhum crime trocar somente uma das partes.
É isso, sabendo dessas coisas agora é desencanar de alguns mitos criados e curtir a motoca, ajudando na durabilidade das peças e no prazer da pilotagem.
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